SÃO LEOPOLDO 2025: A realidade que nenhum filtro de Instagram consegue disfarçar 196h44
POR JOÃO DARZONE – ADVOGADO e PRESIDENTE DO OBSERVATÓRIO SOCIAL DE SÃO LEOPOLDO 2g3a3k

ado um ano da devastadora enchente que submergiu mais de 70% da área urbana, São Leopoldo ainda navega em águas turvas quando o assunto é planejamento e recuperação. 9s6h
A cidade, que viveu um dos maiores desastres de sua história em 2024, segue sem um plano de contingência estruturado, enquanto o comércio local agoniza e o debate político se perde em retórica vazia.
Em uma caminhada pelo centro comercial, o cenário é desolador: salas comerciais vazias multiplicam-se a cada esquina, evidenciando o colapso econômico que se intensifica mês após mês. Comerciantes que resistiram à enchente agora enfrentam outro tipo de inundação: a de impostos.
Os dados oficiais confirmam a sobrecarga tributária: a Unidade Padrão Monetária (UPM), base de cálculo para o IPTU, saltou de R$ 3,91 em 2020 para R$ 6,06 em 2025, representando um aumento acumulado de 55% em apenas cinco anos.

Os números da economia de São Leopoldo quando analisados em seu montante final são bons apenas na retórica. Em que pese ser a sétima economia do estado, esses números refletem o alto desempenho de segmentos como grandes empresas, polo de informática e serviços.
São Leopoldo oferece oportunidades para grandes empresas, o que gera emprego e renda, porém são as pequenas e médias empresas que criam impactos reais no progresso da cidade, e que somadas criam muito mais renda e distribuição de riqueza que as grandes corporações.
Enquanto as multinacionais e grandes indústrias são inegavelmente importantes para o ecossistema econômico local, os lucros e resultados dessas corporações quase nunca ficam no município, sendo geralmente distribuídos para as empresas matriz ou outras filiais, ou ainda destinados a acionistas que raramente residem na cidade.
Em contraste, as pequenas e médias empresas reinvestem seus ganhos localmente, são os pequenos e médios empreendimentos que fazem a verdadeira capilarização dos recursos na comunidade.
No entanto, no volume que realmente distribui renda existe ZERO ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL, o que deixa claro que o pequeno e médio empresário, seja ele dos serviços, indústria e comércio, sofre de forma algoz e cruel, pois seus altos custos são impactados pela ausência de serviços essenciais e políticas públicas que o município deveria dispor, entre eles:
(1) sistema tributário com pouca inteligência e alta burocracia;
(2) política de segurança pública praticamente inexistente;
(3) coleta de lixo; (4) saúde precária e pouco transparente;
(5) sistema de mobilidade urbana decadente e ultraado;
(6) falta de modernização do plano diretor;
(7) falta de estímulos à cultura, turismo e lazer.
A falta desses sete elementos essenciais impacta diretamente os custos operacionais das pequenas e médias empresas, pois para reter talentos de recursos humanos ou mesmo competir com grandes empresas, elas são oneradas com despesas adicionais que deveriam ser supridas pelo poder público.
São Leopoldo, em razão dessa escassez de qualidade de serviços públicos, de segurança pública, de turismo, lazer, bons locais públicos e alta carga tributária, NÃO É SONHO PARA NENHUM CIDADÃO OU IMIGRANTE/MIGRANTE.
A cidade que já foi conhecida como “Berço da Imigração Alemã” tornou-se um mero dormitório para trabalhadores que, ao menor sinal de prosperidade, migram para municípios vizinhos com melhor qualidade de vida.
Enquanto as grandes corporações conseguem absorver esses custos extras ou negociar incentivos fiscais específicos através de seu poder econômico e político, os pequenos e médios empreendedores são sufocados por uma istração pública que parece deliberadamente ignorá-los.
Sem capacidade de pressão política ou econômica para barganhar benefícios, estes empresários ficam completamente desestimulados a crescer ou investir na cidade, criando um ciclo vicioso perverso que estrangula justamente o segmento que mais contribui para a economia local e que poderia transformar São Leopoldo em um município próspero e atrativo.
Esta política míope de privilegiar apenas os grandes players econômicos, enquanto massacra os pequenos com impostos e burocracia, revela uma gestão municipal que não compreende os fundamentos básicos de desenvolvimento econômico sustentável.
Enquanto as grandes corporações conseguem absorver esses custos ou negociar incentivos fiscais específicos, os pequenos e médios empreendedores ficam desestimulados a crescer ou investir na cidade, criando um ciclo vicioso que prejudica justamente o segmento que mais contribui para a economia local.
Ademais, a geração de impostos local não é aplicada de forma inteligente há décadas, com máquina pública inchada, projetos ruins e ausência total de políticas públicas que revertam em benefícios para cidade.
Mesmo considerando que são necessários impostos para fazer frente às discrepâncias dos 8 anos de governo Vanazzi, que foi um gestor irresponsável na condução das finanças, não há nenhuma evidência de corte de gastos em Cargos em Comissão (CCs) na gestão Heliormar.
Pelo contrário, o que se observa é a manutenção ou até mesmo a ampliação da estrutura de cargos comissionados, onerando ainda mais os cofres públicos e contradizendo o discurso de austeridade fiscal utilizado para justificar o aumento expressivo da carga tributária sobre os cidadãos e empresários leopoldenses.
A continuidade desta política de inchaço da máquina pública com cargos políticos demonstra que, apesar da mudança de comando, as práticas de gestão permanecem alinhadas com interesses eleitorais em detrimento da eficiência istrativa e do equilíbrio das contas públicas.
Enquanto isso, a Câmara Municipal transformou-se em palco antecipado para as eleições de 2026. Os vereadores estão visivelmente em campanha, como evidencia a quantidade de discursos vazios lançados em plenário.
As poucas oportunidades de debater os reais problemas da cidade são as audiências públicas, estrategicamente marcadas 24 horas antes de feriados, transformando-se em palanques eleitorais onde os parlamentares envergonham a cidade ao demonstrar zero preocupação com debates essenciais.
Temas urgentes como a discussão de um plano de contingência caso as chuvas atinjam novamente os níveis de 2024, a necessária reforma tributária e o alavancamento da economia local são sistematicamente ignorados.
Em vez disso, a Câmara de Vereadores, ao invés de focar nos problemas cotidianos do cidadão leopoldense, dedica-se a homenagens inúteis cujo único objetivo é criar exposição para os futuros candidatos de 2026.
Quanto ao poder executivo, suas ações efetivas são completamente desconhecidas. Tal como no governo Vanazzi, os dados de transparência são pouquíssimos claros, e suas políticas ainda são desconhecidas.
Porém, segue um padrão de governança distinto do prefeito anterior: o uso das redes sociais de forma intensa, que parece ter substituído integralmente a publicação de atos oficiais.
Este exemplo ruim é seguido pela vice-prefeita, muitos secretários municipais e por cargos em comissão de alta posição no município que, por óbvio, não escondem de forma descarada que o objetivo é usar o cargo como trampolim para 2026.
…”quem governa por redes sociais acaba sendo governado por elas”…
Esta conduta é arriscada, pois, quem governa por redes sociais acaba sendo governado por elas. A rede social, que não deve ser interpretada como internet, é uma ferramenta de mão dupla que, ao contrário do que se pensa, ajuda a desconstruir a imagem que foi inventada, transformando o gestor em prisioneiro de sua própria fantasia idealizada, sendo obrigado imperceptivelmente a se comportar de acordo com a imagem que a a ser imposta pela própria rede social.
A rede social é a antítese da estabilidade. Ela tem a capacidade imensa de provocar crises, desentendimentos, julgamentos públicos e linchamentos, como se vê cotidianamente.
Utilizar a rede social para apagar incêndio é jogar gasolina ao invés de água. Governar por redes sociais faz com que se aumente a instabilidade. E quem governa dessa forma acaba sendo governado por isso.
É justamente aqui que ocorre o maior erro dos agentes políticos ao se utilizarem dos respectivos likes ou comentários positivos dos movimentos que foram virilizados como parâmetro global de opinião pública, deduzindo que as suas ações, que por diversas vezes foram decididas no mundo fantasioso da rede social, estão sendo respaldadas pela maioria da população.
A lista de temas ignorados pelo poder público municipal é extensa: não há debate sobre a reforma do Plano Diretor (fundamental após as alterações geográficas causadas pela enchente), o colapso do sistema de saúde municipal segue sem solução, e a modernização istrativa através de processos eletrônicos permanece no papel.
Mais grave ainda é a ausência de um plano estruturado para enfrentar novas enchentes. Estudos meteorológicos indicam que eventos climáticos extremos tendem a se repetir com maior frequência, e a cidade segue vulnerável como estava em 2024.
A falta de transparência também é evidente. A própria Câmara Municipal não mantém atualizada a publicação das leis aprovadas, dificultando o o da população às informações sobre o trabalho legislativo. Uma consulta ao portal da transparência revela lacunas significativas na divulgação dos atos oficiais.
Outros temas fundamentais para a recuperação e modernização da cidade permanecem fora da pauta: coleta de lixo inteligente, fiscalização efetiva sobre atos do executivo e transparência de dados são assuntos praticamente ignorados nas sessões legislativas.
Enquanto o poder público se perde em promessas vagas e disputas políticas antecipadas, São Leopoldo segue à espera de ações concretas que possam reconstruir não apenas sua infraestrutura física, mas também sua economia e a confiança de seus cidadãos.
A água baixou, mas os problemas continuam a transbordar 422j5j
Resta saber quanto tempo mais durará o governo com base em resultados de aparências. Bastará uma chuva forte – ou talvez apenas mediana – para expor novamente as fragilidades que nenhum story ou post bem produzido consegue esconder.
A economia combalida e a ausência de projetos em áreas sensíveis podem derrubar este castelo de cartas digital muito antes das eleições de 2026.
Afinal, enquanto os likes são efêmeros, a realidade é implacável, e diferente das redes sociais, ela não oferece a opção de “deletar” quando as coisas dão errado.
No final das contas, nem o mais habilidoso social media conseguirá editar a enchente que pode estar por vir – tanto nas ruas quanto nas urnas.